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A invasão do francês Duguay Trouin ao Rio de Janeiro, em 1711, já
havia caído no esquecimento quando o Conde de Oeiras, futuro Marquês
de Pombal, transferiu a capital brasileira de Salvador para o Rio
de Janeiro. Salvador nasceu capital; foi construída por Tomé de Souza
para esse fim, com estrutura apropriada, ainda que rudimentar. O Rio
não. Surgiu da necessidade de reconquistar aos franceses o domínio
da Guanabara, invadida e ocupada por eles desde 1555. Mem de Sá os
derrotou em 1560, destruindo o forte de Coligny, seu principal reduto
e fazendo muitos prisioneiros. Por carência de recursos, entretanto,
inclusive de pólvora, retirou-se para São Vicente e os franceses,
que haviam fugido para as matas, voltaram e reconstruíram suas fortificações.
Impunha-se que os portugueses se instalassem na região se quisessem
vê-la livre de invasores. E foi o que fez Estácio de Sá, sobrinho
de Mem de Sá, desembarcando com sua gente ao pé do Pão de Açúcar,
na Praia Vermelha e aí erguendo um arraial - algumas casas de palha
protegidas por uma cerca de pau-a-pique, mais acampamento militar
que povoação.
Quando finalmente os franceses foram expulsos em 1567, os portugueses
transferiram-se para o morro de S. Januário (depois morro do Castelo)
e a vila que aí fundaram se transformou, com o passar dos anos, em
uma bela cidade, que Pombal haveria de escolher, em 1763, para substituir
Salvador como capital da colônia. A transferência resultou de boas
razões. O eixo da economia colonial deslocou-se da indústria açucareira
do nordeste para a indústria de mineração do centro-sul. Era o ciclo
do ouro e dos diamantes predominando sobre o ciclo da cana de açúcar.
O Rio havia crescido muito como entreposto da zona de mineração. E
havia ainda a conveniência de reforçar as defesas do sul contra pretensões
da Espanha. Salvador foi sede do Governo por dois séculos e cumpriu
bem sua missão de firmar, para Portugal, a propriedade e a posse da
terra, assegurando-lhe a unidade política, social e econômica, através
de estreita e permanente ligação com todos os pontos do país
De Salvador partiam importantes caminhos de integração que demandavam
os sertões do Norte, do Oeste e do Sudoeste. O Rio foi capital também
por dois séculos. Durante alguns anos chegou mesmo a transformar-se
em sede do próprio Governo português, hospedando a família real que
havia deixado Lisboa às pressas, compelida pelo avanço das tropas
de Napoleão. Assistiu, assim, à morte da Rainha Louca, Dona Maria
e à ascensão ao trono do Príncipe D. João; do mesmo modo que, apreensiva,
testemunhou o regresso do Monarca e sua Corte a Portugal. Contribuiu
o quanto pôde para que a independência se fizesse um ano após. E aplaudiu,
com entusiasmo, a coroação de Pedro I, que viria a confirmá-la como
sede da nova nação que surgia. Viveu o clima de apreensão que se seguiu
à ruptura com Portugal.
O Rio se encheu de nova alegria com a festa de coroação do segundo
Imperador. Sofreu as incertezas da guerra do Paraguai; comemorou com
os negros libertos a assinatura da Lei Áurea, e sobressaltou-se com
o movimento da madrugada de 15 de novembro, que derrubou a Monarquia
e fez do Brasil uma República. Viveu, portanto, intensamente, o mais
rico período da história brasileira. E já havia se transformado numa
das maiores cidades do mundo quando, 197 anos decorridos desde 1763,
cedeu sua condição de capital a uma nova cidade que se erguia nos
sertões, como fruto de uma nova realidade que se impunha, de novos
tempos que se abriam nos destinos do Brasil.
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