Ao lançar sua Plataforma de candidato à Presidência, Juscelino expressara seu pensamento de que não seria possível a transferência da administração federal para o Planalto senão em um prazo da ordem de 15 anos. Acrescentando: "É problema de uma geração". Mas dizia-se disposto a iniciar a obra se tivesse o apoio do Congresso. Ocorreu, entretanto, que, contrariando costume seguido por todos os candidatos de só realizar comícios nas grandes cidades e capitais, JK decidiu iniciar sua campanha pelas cidades menores, do interior. Logo no seu primeiro encontro com o povo, no comício de abertura da campanha, foi interpelado por um popular sobre se, na hipótese de vir a ser eleito, mudaria ou não a Capital para o Planalto. Isto aconteceu na cidade goiana de Jataí, a 4 de abril de 1955. Chovia torrencialmente e o comício fora transferido da praça pública para o maior salão existente na cidade, o do revendedor de autos Studbaker.

A assistência não era, portanto, tão numerosa quanto o candidato desejaria. Assim, ao final do seu discurso, menos extenso do que inicialmente havia programado, Juscelino entendeu conveniente franquear a palavra para qualquer interpelação que quisessem lhe fazer. Foi então que Antônio Soares Neto, mais conhecido na cidade por Toniquinho, lhe fez aquela pergunta sobre se, eleito, mudaria a Capital para o Planalto. No discurso que acabara de pronunciar, Juscelino havia pregado o respeito à Constituição e o respeito à lei como forma de superar os problemas políticos que conturbavam o Brasil. Um impressionante esquema de pressão, a que se vincularam generais das três Armas e o próprio Presidente da República, João Café Filho, buscava forçá-lo a desistir da candidatura, advertindo-o, claramente, de que jamais tomaria posse, se chegasse a ser eleito.

A advertência não parecia sem fundamento. Café Filho, vice-presidente, exercia a presidência exatamente em razão do suicídio de Getúlio, provocado por essas mesmas forças que agora se opunham a Juscelino. A derrubada de Vargas na realidade repetira sucesso anterior, de poucos anos, quando Getúlio amargara sua primeira queda, num golpe desfechado pelo mesmo grupo, que considerava a candidatura Juscelino uma tentativa de "retorno ao passado ". Parecia, assim, improvável chegar-se à Suprema Chefia da Nação sem o beneplácito de tão poderosas forças. Juscelino, que sabia não ter o apoio delas, decidiu enfrenta-las, contando que no curso da campanha pudesse ir afastando aos poucos as objeções e resistências. Sua pregação de respeito à lei, à Constituição, era o que verdadeiramente pensava e sentia, mas essa colocação convinha também a sua causa.

ntretanto, agora, voltavam-se contra ele suas próprias palavras. Toniquinho insistia em saber se o candidato, que tão solene e enfaticamente pregava o respeito à Constituição, mudaria, se eleito, a Capital para o Planalto, conforme a Constituição determinava. Ao candidato não restava qualquer saída. E prometeu mudar a Capital. Juscelino não era homem de prometer e esquecer. Poderia, entretanto ter dado início às obras, deixando para governos posteriores sua conclusão, hipótese que ele próprio chegara a considerar nas generalidades de sua plataforma de governo. Não faltaram os que lhe aconselhassem esse caminho, argumentando que a tarefa era grande demais para um só Presidente. Na verdade ninguém admitia como possível o erguimento de uma nova Capital em pleno sertão, sem estradas de acesso, sem projetos, sem dinheiro, em apenas quatro anos. Mesmo os maiores entusiastas da idéia entendiam inexeqüível a transferência nesse prazo.

Mas Juscelino, depois de Jataí, passara a examinar em profundidade o assunto e acabara se empolgando. Sentira, no correr da campanha, que a interiorização da Capital, sua mudança para o centro geográfico do país, representava anseio geral. E penetrara em todas as extraordinárias conseqüências da mudança. Convencendo-se, por outro lado, de que só havia uma solução possível: ou se transferia a Capital no período de um governo ou as obras jamais terminariam, eternizando-se nos governos subseqüentes.